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30/11/2015ㅤ Publicado às 18:29

Foto: Diego Medeiros/INCITI

Medellín, na Colômbia, é a única cidade do mundo a possuir um bairro com escadas rolantes a céu aberto. Com um plano de gestão do automóvel, conseguiu reduzir em 50% o número de acidentes nos últimos anos. Tem um transporte público de qualidade e saiu da categoria de uma das cidades mais violentas da América Latina para uma exímia ganhadora de prêmios pelo urbanismo inclusivo.

Para Gustavo Restrepo, um dos urbanistas responsáveis pelo premiado Plano de Desenvolvimento Municipal 2008-2011 de Medellín, a exitosa transformação só foi possível graças a um verdadeiro mergulho da equipe técnica na complexidade dos problemas da cidade. “A participação é mais importante do que a simples informação. A construção da confiança da população no projeto deve preceder o desenho”, defende o colombiano, destacando que esse processo de apropriação dos habitantes é fundamental não apenas para motivar os políticos como para garantir a manutenção das iniciativas.

Apesar de apresentar uma curva de urbanização maior do que outros continentes, a América Latina não está acostumada a planejar. Para combater essa cultura, a equipe de urbanistas previu a execução de 42 projetos até 2030 – 13 deles já em executados –, incluindo a construção de um grande parque, escolas, bibliotecas; o investimento em transporte público de qualidade; recuperação das nascentes urbanas; revitalização de 28 km das margens do rio; incentivo ao uso misto; etc. As ações contaram com apoio do setor privado e motivou concursos municipais, nacionais e internacionais.

De passagem pelo Recife para participar da mesa dedicada ao tema “Cidades Sensitivas, Cidades Inclusivas”, do Urban Thinkers Campus, na última sexta-feira (27), Restrepo concedeu entrevista ao site do CAU/PE. Confira:

Qual é o maior desafio da arquitetura e do urbanismo contemporâneos?

Ser capazes de acertar o sonho das pessoas, de conversar com as pessoas. Acredito que hoje o mais complexo é entender que a cidade não é nossa como arquitetos e urbanistas, somos intérpretes da comunidade. Esse é o maior desafio.  Por isso temos que pensar em cidades sustentáveis, que tenham espaços de qualidade, espaços que nos permitam vermos uns aos outros. Que tenhamos um habitat nas habitações, que o espaço público em torno delas seja de qualidade. Que a cidade não seja uma mancha dura, mas que nelas possamos conviver também com a natureza. Creio em uma cidade que seja de dez minutos, em que você possa ir de bicicleta ou caminhando para casa ou para o trabalho. Creio em um lugar que respeite as diferenças e que tudo que está embaixo do sol educa. Creio em uma paisagem construída em favor da habitação e que não destrua a natureza. Creio que podemos aprender a viver o mais suavemente possível, o que demanda uma mudança de percepção e de território.

O que você aprendeu nessa vivência com a Comuna 13 (comunidade que aglutinou as primeiras transformações na cidade)?

Aprendi que as pessoas têm seus próprios sonhos e que nem todas as cidades têm os mesmos sonhos. Aprendi que em cada lugar há um cidadão diferente que precisa ser consultado. Que é preciso melhorar os corações das pessoas, não apenas as cidades. Que encontrar soluções para as cidades não é uma questão de pesquisa, mas de conversa. Essa conversa educa, constrói uma aptidão para lidar com o espaço público e facilita a apropriação técnica do território.

Como envolver os políticos e o poder público nessa lógica de reinvenção?

A falta de governança é a grande causa da violência, em geral, dos males de uma cidade. Mas melhor maneira de chamar a atenção dos políticos é convidando a trabalhar, dando-lhes ideias, sendo parte da solução e não o problema. Os políticos e os técnicos às vezes se cansam de ser criticados. Os dirigentes precisam de apoio, que a comunidade se envolva, que seja mais ativa e que se queixe menos, que seja mais propositiva na construção da cidade. Todos nós precisamos ter uma atitude diferente. Além da vontade política, é preciso da vontade cidadã.

Quais sãos os pilares técnicos de uma transformação urbana?

São cinco os principais componentes a serem trabalhados: mobilidade, habitação, meio ambiente, equipamentos e espaço público. Com estes cinco equipamentos, montamos o sexto, que é a seguridade e convivência. São os componentes que, se pensados de forma estruturada, respeitam a vida.

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