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12/07/2013ㅤ Publicado às 09:04

Por Roberto Montezuma

Que cidades precisamos criar para o futuro? O Século 21 torna imperativo o desafio de projetar o território das cidades – mais do que nunca o lugar da vida coletiva – visando consolidá-las como sustentáveis, integradas, inclusivas, acessíveis, democráticas e criativas. O Recife se encontra também diante desta urgência. O incremento de área construída intensificada nos últimos anos resultou na degradação de seus ecossistemas. Devido à falta de planejamento enfrentamos hoje a saturação das estruturas urbanas e a baixa qualidade de vida. Para reinventar o Recife, inovador e criativo, devemos partir de uma visão urbanística que considera três categorias urbano-morfológicas:

1. Áreas Verdes: partes do território urbano onde predomina a presença da vegetação em níveis distintos de estruturação: remanescentes de Mata Atlântica e de manguezais, a vegetação de bosque e/ou extensos gramados dos parques de recreação, a vegetação das praças, as áreas verdes privadas e públicas devolutas, dentre outros.
2. Áreas Azuis: território assentado em partes das bacias hidrográficas dos rios Capibaribe, Beberibe e Tejipió, que formam um mundo aquático com mais de 80 canais, riachos e lagoas, capilarizados por todo o território, muitos com trajetos hoje ocultos.
3. Áreas Cinzas: espaços constituídos pelos bairros adensados, com grande massa que ainda dá as costas às águas e aos verdes, com exceção apenas da orla de Boa Viagem, do Centro Histórico (com bordas ainda pouco construídas) e de trechos descontínuos da Beira-Rio do Capibaribe.

Estas três categorias devem se fundir numa tese radical. A cidade não pode mais ser pensada, tratada e usada como “cidade genérica”, que desconsidera as singularidades especialíssimas de sua paisagem. Não pode mais ser pensada por partes fragmentadas, sem coesão mínima e sistêmica indispensável para tratar sua complexidade. A tese radical proposta parte da estrutura natural da cidade, garantindo que o potencial inerente a processos naturais seja considerado no planejamento dos espaços urbanos. Pede soluções que integrem diferentes elementos da natureza, ao invés de ir contra ela, e que também correspondam a demandas sociais e econômicas presentes e futuras.

O Recife demonstra, apesar de seu estado atual, que ainda tem potencial para ser, por incrível que possa parecer, uma vibrante Cidade-Parque, um exemplo internacional de reurbanização. Como? Em 2012 o rXa (Recife Exchange Amsterdam), evento internacional multidisciplinar que reuniu brasileiros e holandeses, analisou as potencialidades naturais do Recife que estrutura-se a partir de um “anfiteatro” natural onde a plateia são bordas de colinas, muitas delas cobertas com remanescentes da Mata Atlântica, nascedouros de riachos e canais que alimentam os rios, cujos sedimentos formam o chão-espetáculo da “cidade das águas”. Este “chão” de potencialidades foi batizado de Árvore d’Água, que representa uma visão da possível integração espacial por onde outrora a água se esparramava pelas terras e formava ilhas. A Árvore d´Água propõe uma lógica potente, pronta para reverter a degeneração urbana, integrar os territórios dos atuais bairros em bairros-parques que se reinventam a partir de conceitos urbanísticos, articulando bordas, marcando centralidades e construindo transversalidades através de novas promenades, que reverta a forma de tratar o transporte, o uso de energia e o uso do solo, mitigando mudanças climáticas e desastres naturais.

A cidade que precisamos criar é o Recife Cidade-Parque resultante da fusão dos Verdes, Azuis e Cinzas, palco de todas as cores! Contextualizando Carlos Pena Filho: “é do sonho dos homens que uma cidade se (re)inventa”. Viva o Recife-Parque do Século 21!

* Texto publicado na revista Algomais de junho de 2013.

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